História

A PARÓQUIA DA VILA GERMÂNIA
Congregação Evangélica Luterana Cristo de Candelária, RS


Em meados do ano de 1860 os organizadores da colônia tiveram de centrar suas primeiras preocupações na organização material. Deixou-se para um segundo momento questões também importantes como escola e igreja. Não se tratou de um descaso por parte dos empreendedores de Vila Germânia, mas das próprias contingências iniciais que impunham prioridades.

Após três anos do início da colonização, os evangélicos passaram a ser atendidos esporadicamente pelo pastor Christian Smidt. Ele residia em Ferraz e a cada três meses ministrava cultos e realizava batismos e casamentos. As demais atividades, como instrução e enterros, eram realizadas por pessoas da própria Comunidade.

No ano de 1870, houve uma primeira tentativa de construir um templo na Vila Germânia. Foi convocada uma Assembléia para o dia 30 de janeiro de 1870, para deliberar a esse respeito. Segundo a ata dessa assembléia, “compareceram somente os senhores da diretoria, Johannes Kochenborger, W. Schilling, Christ Gölzer e W. Kellermann”. [1]

A ata não faz nenhuma referência com respeito à ausência dos colonos na assembléia. Havia o desejo da construção. Talvez o que assustava os colonos era a dimensão proposta pela diretoria. O valor da construção era alto, e deveria ser dividido entre os membros.

Mesmo assim, a diretoria resolveu, unilateralmente, levar adiante este propósito, alicerçados na decisão[2] da Assembléia. Apesar de pouco representativa, era uma deliberação da Comunidade.

A construção seria imponente: “50 pés de comprimento, 30 pés de largura e 18 pés de altura, com paredes maciça de tijolos e coberta com telhas”.[3]  O projeto foi parcialmente modificado[4], e em 1871 assinou-se o contrato para a construção do templo com o construtor Friedrich Bartz[5], que entregou a construção de alvenaria no ano de 1873.

A comunidade da Vila Germânia, quando da sua constituição, não era uma associação confessionalmente luterana. Era antes de tudo uma sociedade religiosa, constituída pelo esforço conjunto de seus próprios membros, onde o aspecto confessional era secundário. O prioritário era o desempenho das atividade sócio-religiosa.

Outro detalhe que aparece – a igreja seria antes de tudo cristã, o que permitiria abrigar em seu meio pessoas de “confissão” diferente. Seria uma comunidade para a comunidade, independente de Sínodo ou de instituições superiores.

Em 9 de fevereiro de 1873, foi fixado prazo para concorrência da “melhor proposta para o término do sotão e para o coro”.[6] Em abril do mesmo ano, foi assinado contrato com o carpinteiro Carlos Gerhke, que vencera a licitação e deveria terminar a construção.

Ao que tudo indica, a diretoria tinha uma visão de futuro. Enquanto a maioria das comunidades na região, depois de 30 ou 40 anos, teve que reconstruir suas igrejas em dimensões maiores, Vila Germânia vive com seu templo[7] já há mais de cem anos, recebendo apenas algumas reforma pontuais.

A comunidade religiosa antes de tudo era uma necessidade para os colonos, e por essa razão redobraram esforços para materializá-la. Uma vez erguida a igreja, construída a casa pastoral, e edificado o cemitério, os membros deveriam apenas manter a comunidade – num sentido material.

A vivência religiosa ligada à igreja, ou seja, a santificação, às vezes era relativizada diante de um cotidiano de prosperidade e de trabalho  ao qual se aliava o divertimento e o lazer. Também por isso, a participação nos cultos, centralizador da vivência religiosa, era menor. Em alguns casos, resumia-se às datas máximas do cristianismo, como o período da Páscoa e Natal, dias de festa e  confirmação. Reclamando desta carência na vida de culto, Smidt lamentava que por vezes “o pastor precisa pregar para bancos vazios”.[8]

Em 1890, foi edificada a torre da igreja, que não fora erigida quando da construção do templo por existir um dispositivo legal que proibia torres aos não-católicos.

A construção da torre foi iniciada ainda no final do período imperial, quando as leis já não mais expressavam a nova realidade que se delineava no Brasil. Foi mais um empreendimento de grande monta que exigiu um esforço da comunidade. Essa torre foi erguida num planejamento que já previa a colocação de três sinos, os quais foram adquiridos da Alemanha.

Foi seguramente um grande momento. Existem várias correspondências saudando a  chegada dos sinos. Tanta importância tinha este badalar que foi redigido um estatuto para ordenar a forma como seriam utilizados os sinos. O sino pequeno deveria tocar por dois minutos ao amanhecer, ao meio dia e ao entardecer. Nos domingos ou dias de festa deveriam tocar os três sinos durante 5 minutos “para que a Comunidade tome conhecimento”. Nos domingos, uma hora antes do culto, deveria tocar o sino pequeno, meia hora antes, o pequeno e o médio e, por fim, os três em conjunto, por cinco minutos. O final de cada culto, deverá igualmente ser anunciado à comunidade com o badalar dos três sinos”.[9]

No dia 7 de julho de 1925 ocorreu a emancipação de Candelária, episódio no qual membros luteranos tiveram destacada participação.

O  Pastor Ludwig Bohn foi instalado na “Igreja Evangélica Alemã Livre” em 27 de fevereiro de 1927. Bohn permaneceu à frente da Paróquia pelos próximos 30 anos. Com a saída do pastor Bohn no final da década de 50 começa a história do luteranismo em Candelária. E no ano de 1965 a antiga comunidade livre e independente filia-se a Igreja Evangélica Luterana do Brasil à qual é filiada até hoje.

Dr. Roberto Radünz
Professor na UNISC e UCS
Membro da CELC



[1] “...es sind bloss die Herren Vorstände Johannes Kochenborguer, W. Schilling, Christ Gölzer und W. Kellermann erschienen...” ACLC: Ata da Comunidade Evangélica de Povoação Germânia – 30/1/1870. Existem apenas fragmentos dessa ata nos arquivos da comunidade. Ele é seguramente o documento mais antigo dos evangélicos na Vila Germânia.
[2] “...und dieselben haben folgendes beschlossen über den Bau der evangelischen Kirche in der Povoação Germania...”. “e os mesmos decidiram o seguinte sobre a construção da igreja evangélica na Povoação Germânia.”. ACLC: Ata da Comunidade Evangélica de Povoação Germânia – 30/1/1870.
[3] “...50 Fuss Länge, 30 Fuss Breite und 18 Fuss  Hoch, massiv von Backsteinen aufgemauert und mit Ziegeln gedeckt”. ACLC: Ata da Comunidade Evangélica de Povoação Germânia – 30/1/1870.
[4] O contrato de 1871 previa um aumento nas dimensões: 40 pés de largura, 60 de comprimento e 18 de altura. ACLC: Contrato de Construção de Igreja – 26/2/1871.
[5] O contrato foi orçado em Rs. 1.093$000, que seria pago em quatro parcelas respeitando certas etapas na construção. Pelo contrato, a parte de alvenaria deveria ser entregue em 16 meses, o que parece ter ocorrido, pois é de abril de 1873  o contrato com o carpinteiro que se responsabilizou pela confecção do telhado.
[6] “...gewesene Termin zur Versteigerung der sowohl zum Dachstuhe als zum Cohr (sic)...”. ACLC: Contrato de carpintaria assinado em 1 de abril de 1873.
[7] A torre só foi construída em 1890.
[8] “...der Pastor muss oft vor leeren Bänken predigen”. DEUTSCHE ANSIEDLER: 1883, (março), p. 21.
[9] “Die Beendigung jedes Gottesdienstes, soll gleichfalls der Gemeinde durch Zusammenläuten der 3 Glocken  angezeigt werden”. ACLC: Estatuto sobre o tocar dos sinos: 29/8/1889.

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Um comentário:

  1. Um belo e conciso resumo da história da Igreja Luterana em Candelária, que fez dela o que ela hoje é, graças à fé e à dedicação de seus líderes, membros e pastores! Uma prova da promessa de Deus, de que a sua Palavra não voltará vazia, mas fará aquilo para que a designou, conforme Is 55.11. Parabéns! P J Júlio Bauer

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